Famosas desquitadas

O Brasil foi o quinto último país do mundo a permitir o divórcio, com a Lei 6515/77, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1978 (sim, justamente a data que os meus próprios pais se casaram).

Existe ainda uma exceção bizarra ao redor deste planetinha: as Filipinas, onde ainda não existe o divórcio. Fico somente me perguntando como é o caos dos casais se separando de fato e se juntando e fazendo famílias novas depois sem papel.

Até o fim de 1977, portanto, tinha ainda apenas o desquite , o famoso artigo 315 do Código Civil Beviláqua (confere, porque, no meu blog, fake news é o que não tem). E, acredite, muitas mulheres bem de vida, inteligentes, conseguiram o desquite. Exemplos:

1. A mais famosa de todas, Clarice Lispector, que, em 1959, desquitou-se do então embaixador Maury Gurgel Valente, mesmo já tendo dois filhos com ele. No conto “O Estado atingido”, ela comenta o fato e porque nunca deixou o motivo vir a público:

Depois da época de palavras de amor, de palavras de raiva, de palavras, as relações entre os dois tornaram-se aos poucos impossíveis de resultar numa frase ou numa realidade clara. À medida que estavam casados há tanto tempo, as divergências, as desconfianças, certa rivalidade jamais chegavam à tona, embora elas existissem entre eles como o plano dentro do qual se entendiam. Esse estado quase impedia uma ofensa e uma defesa, e jamais uma explicação.

Formavam o que se chama um casal comum.

O então diplomata não quis muita briga, embora a amasse e houvesse tentado se reconciliar, como se vê em carta do mesmo de 1959.

2. Inezita Barroso

Contrariou duplamente os temidos pais conservadores do clã dos Aranha de Lima, e tomou a corajosa decisão de desquitar-se depois de oito anos de casada. “Quando dei a notícia para a família, durante um almoço, no qual estava a minha avó e até um bispo, foi um desbunde !”

Isso em 1955. Coragem!

3. Arethuza Aguiar.

Sim, advogada e esposa do autor da Lei do Divórcio, Nelson Carneiro, como o primeiro divórcio decretado por um tribunal.

Já estavam separados de fato há 8 anos.

4. Chiquinha Gonzaga

Ela não se separou no papel porque não era possível no século XIX, mas o ex-marido conseguiu a inacreditável façanha de conseguir na Igreja Católica em 1877 (!)

Fontes:

https://livrologia.blogs.sapo.pt/clarice-lispector-o-fim-do-seu-780172

https://www.migalhas.com.br/tudo-sobre/arethuza-figueiredo-henrique-silva-de-aguiar

https://artsandculture.google.com/story/5wWx0ZrCxThmLw?hl=pt-BR

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